domingo, 5 de abril de 2009

Qual é a importância do rastreamento e do tratamento do hipotireoidismo subclínico na gravidez?

Há pelo menos três décadas, a literatura mundial vem mostrando que o hipotireoidismo materno na gestação é causa de déficit do desenvolvimento neuropsicológico do concepto, com repercussões sobre o quociente de inteligência (QI) de crianças em idade pré-escolar e escolar.
Contudo, Haddow, em 1999, levantou uma polêmica maior: a de que o hipotireoidismo subclínico não tratado na gestação também influenciaria no desenvolvimento intelectual dessas crianças. Em um estudo observacional, esse pesquisador avaliou o QI de 62 crianças, com oito anos de idade, nascidas de mães portadoras de hipotireoidismo subclínico durante a gestação (tratadas e não-tratadas), em comparação com 124 controles, em uma região sem deficiência de iodo.
Demonstrou que as crianças, de mães com hipotireoidismo subclínico, apresentavam o QI quatro pontos abaixo em relação ao das crianças controles. Esse déficit foi mais evidente nas crianças de mães que não foram tratadas durante a gestação: 19% destas crianças tinham o QI menor que 86, em relação aos 5% do grupo controle, e a média do QI era 7 pontos mais baixa. As crianças de mães tratadas, em contrapartida, apresentaram os mesmos resultados do grupo controle.
O hipotireoidismo subclínico é definido como elevação dos níveis circulantes de hormônio tireotrófico (TSH), sem alterações dos valores absolutos dos hormônios tireoidianos (T4 total, T4 livre, T3) em pacientes assintomáticas. A incidência de hipotireoidismo subclínico durante a gravidez é de 2% a 2,5%. Sabe-se que hormônios tireoidianos maternos têm papel preponderante no desenvolvimento neurológico fetal até a 18 semanas de gestação, quando então, a tireóide fetal inicia sua produção hormonal.
Contudo, alguns estudos salientam que o papel dos hormônios maternos mantém-se até o final da gravidez, apesar de exercer menor influência nesta fase, e determina um desenvolvimento neurológico adequado. Em contexto atual, ainda de indefinição e, considerando-se sua importância, é preciso determinar quando e como rastrear essa enfermidade. Portanto, torna-se muito evidente a relevância dos hormônios tireoideanos no crescimento e no desenvolvimento neurológico e seu déficit no ambiente fetal, mesmo que de forma pouco intensa, parece ser prejudicial.
Logo, o rastreamento do hipotireoidismo subclínico na gravidez ou no período pré-concepcional, bem como seu tratamento, demonstra ser razoável até o momento. Cabe ressaltar, entretanto, que os estudos ainda são poucos e, apesar de serem concebidos com raciocínio envolvente, carecem de melhor metodologia para capitalizar credibilidade em relação ao benefício para essas crianças se o hipotireoidismo subclínico materno estiver sob um enfoque terapêutico.

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